Este folhetim de Pedro Passos Coelho com a Segurança Social
e as Finanças tem muito que se lhe diga. Mas nem tudo o que há a dizer é tão
óbvio como parece.
A primeira coisa que há a dizer e
não é despicienda: a dívida, ao que parece, está paga. Não é pouco, nos tempos
que correm. Pontos negativos para Gryffindor (e não, não é Slytherin que a comparação
é pueril mas é minha, e quem manda aqui sou eu, se não levo a bola para casa e
acabou o jogo. Quanto muito Hufflepuff), pontos negativos, dizia, antes de ser brutalmente
interrompido por mim próprio: foi paga da forma mais atrapalhada que se possa
imaginar. Perante uma dívida prescrita, PPC tinha duas hipóteses: ou pagava ou
não pagava. A solução dele foi pagar mais tarde, não da primeira vez que alguém
falou no assunto mas da segunda. E não foi porque não ia pagar, ele ia, mas era
depois. Bolas. Não se arranjava uma forma mais complicada de fazer as coisas?
No entanto a coisa explica-se:
tal como o assunto lhe era apresentado, PPC entendia que não tinha um dever de
pagar, apenas um direito – o de aproveitar aqueles anos de descontos se e
quando lhe conviesse, pagando os referidos descontos. Consigo identificar-me
perfeitamente com esta lógica: perante o Estado, pagar o menos possível pelo
melhor benefício. Nada de estranho. Mais: perguntado por um jornalista, PPC deu
as explicações que entendeu adequadas e nada aconteceu. Parecia a confirmação
de que tinha razão. Quando o assunto surge agora, fez o que é normal: se
chateiam muito com isso, mais vale pagar para ver se se calam. Devia tê-lo
feito desde a primeira vez, para dar o exemplo. Não se pode ter tudo, mas não é
por aí que o gato vai às filhoses.
Mas já agora fica uma pergunta:
porque é que o assunto ficou a marinar de 2012 para cá? Das duas uma: ou as
explicações foram suficientes na altura e o assunto não devia ter reaparecido,
a menos que houvesse novos dados – e não parece haver – ou não foram, e o
assunto deveria ter sido devidamente escrutinado imediatamente. Espera. Também
há a hipótese deixa-cá-pôr-isto-de-vinha-de-alhos-que-agora-está-lá-o-Calimero-e-o-Costa-não-aproveita-o-empurrãozinho.
Mas não, não pode ser isto, porque o jornalismo em Portugal é sempre sério. E
imparcial.